29 de setembro de 2011

2º. Fórum Mundial de Sustentabilidade: Análise da Secretária de Estado do Meio Ambiente Nádia Ferreira


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Titular da SDS faz análise do evento com relação à realidade amazônica

O 2º. Fórum Mundial de sustentabilidade alcançou o objetivo que se propôs: ampliou a participação de lideranças empresárias na discussão de temas em defesa de mecanismos bem sucedidos para o desenvolvimento sustentável mundial. Esse ano trouxe grandes personalidades, como por exemplo,  o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton; o ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger; e o fundador e presidente do Grupo Virgin, Richard Branson, além de especialistas na área ambiental.
O tema sustentabilidade foi abordado com diferentes percepções, e algumas até contraditórias. O mundo sempre caminhará assim, o homem tem essa grande capacidade de ter diferentes visões sobre o mesmo tema, mas é no equilíbrio das ideias que alcançamos os melhores resultados.
Durante os três dias estive atenta, ouvindo e anotando as mensagens que cada personalidade tentava nos passar.  Apresento aqui uma síntese do que ouvi, alguém pode discordar, mas são minhas impressões:
Arnold Schwarzenegger – Sustentou a ideia de que os defensores do planeta devem atrair a sociedade pelo sentimento e não com presságios alarmistas do medo e da culpa. “A economia verde tem que vir pela paixão e não pelo medo”.  Justificou assim, o investimento de U$ 600 bilhões em infraestrutura no ano de 2006 que a Califórnia fez, com estradas e mobilidade urbana. Afirmou que 50% da população brasileira e da americana não sabem o que é sustentabilidade. Será ?
Schwarzenegger declarou ainda que a Califórnia tem 30% de energia renovável (estão construindo grandes usinas eólicas) e que a meta para 2020 é de que 50% da frota da marinha norte-americana utilize combustível renovável. Ele criticou a economia tradicional à base de petróleo, e os prejuízos que acarreta à saúde pelos efeitos da poluição.  Elogiou o etanol brasileiro.
James Cameron – Admitiu que foi um estrangeiro arrogante ao se posicionar de forma tão veemente contra a Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Ele sugere que se ampliem os espaços de discussão com a sociedade sobre o tema, principalmente entre os caiapós e populações tradicionais. Cameron insiste que o Brasil deveria optar pelo potencial da energia solar e desistir de Belo Monte.
Dan Epstein – Apresentou sua experiência como Diretor de Sustentabilidade dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, além de compartilhar os 12 objetivos prioritários para as ações relacionadas ao projeto olímpico: emissão zero de carbono; produção zero de lixo; transporte sustentável; água limpa; biodiversidade; baixo impacto ambiental; apoio às comunidades locais; acesso; emprego e negócios; saúde e bem estar; e inclusão social.
Finalizou a sua fala com alguns alertas: “ O mundo está olhando o  governo brasileiro e o Rio de Janeiro. Coloquem de lado os problemas e a maneira tradicional de trabalhar. Reúnam todos, coloquem o ego de lado e trabalhem juntos” . “ O prêmio é enorme: quatro bilhões de pessoas olharão para isso” . Digam aos políticos que eles passarão a ser amados depois disso”. E foi aplaudido por todos com muito entusiasmo.
Richard Branson – Defendeu a exploração econômica dos recursos da floresta, além do petróleo e gás, justificando que as pessoas precisam sair da linha da pobreza. Elogiou o etanol brasileiro, desde que a cana não seja plantada na floresta. Defendeu a energia nuclear ao declarar que nos últimos oito anos a tecnologia avançou muito, justificando que os reatores do Japão são de tecnologia antiga. Considera que o verdadeiro inimigo do meio ambiente são as emissões de carbono, que causam aquecimento global e as guerras. Afirma que suas empresas trabalham com energia suja (aviação marítima e trens), mas que está investindo em pesquisa de fontes de energia limpa. Por fim, sugere que deveríamos não comer carne às sextas-feiras para controlar a expansão da pecuária.
Adam Werbach  e Paul Hawken – Elogiaram o empresariado brasileiro que está unindo a sociedade para promover as mudanças que o Brasil precisa no mundo dos negócios sustentáveis. Igualmente, ressaltaram os Programas brasileiros de energia (etanol e hidrelétricas) como inovadores, e afirmaram que o Brasil está trabalhando para a sustentabilidade, sendo esse o melhor caminho. Afirma que os gestores e políticos devem ouvir mais as mulheres, elas geralmente apresentam as melhores alternativas para a sustentabilidade.  Finalizou que a sustentabilidade se dá em quatro níveis: social, ambiental, econômico e cultural. Todos devem ser igualmente considerados. Por fim, comparou a Amazônia como um ninho biológico, e observou que ainda temos muito o que descobrir nesse ninho da natureza.
Bill Clinton – Celebridade mais esperada, principalmente por ser líder mundial quando o assunto é responsabilidade social, meio ambiente e sustentabilidade. Personalidade carismática e simplicidade em pessoa, detalhes que deixou transparecer nas poucas horas que esteve em solo amazonense.
Comentou sobre os pontos que considera positivos no Brasil: possuir a maior floresta tropical do mundo; ter desenvolvido de forma inovadora a produção do etanol; reduzido 75% do desmatamento na Amazônia; 90% da energia são de fontes renováveis (hídrica). Fez um desafio ao Brasil, liderem os demais países do mundo na questão energética.
Afirmou que, dos 44 países que se comprometeram em reduzir suas emissões, apenas quatro agiram e vão conseguir atingir suas metas até 2012 - Alemanha, Grã-Bretanha, Suécia e Brasil, essas nações mudaram a maneira de como produzem e utilizam a energia, sem deixar de lado a busca pelo bem-estar social. “Se o Brasil conseguir aproveitar os sucessos alcançados até aqui e tomar as decisões certas, pode derrubar as barreiras mentais que impediram um acordo em Copenhague, gostaria que o Brasil liderasse o mundo na questão energética”.
Clinton discorreu sobre várias iniciativas dos países para maior eficiência energética e menores emissões de gases de efeito estufa, por exemplo, Reino Unido - tiraram o carvão de circulação; Curitiba, Bogotá Colômbia passaram a utilizar ônibus híbridos; Rio de Janeiro e Los Angeles estão substituindo os semáforos por lâmpadas de led; incentiva a utilização de células fotovoltaicas, e comentou sobre a grande oportunidade de geração de empregos a partir de energias limpa, sugerindo utilizar os aterros como geradores de energia. Ele afirmou ainda que precisamos sustentar a vida acima de tudo, citou exemplos de empresas que estão mudando a forma de produção para aplicar os conceitos da sustentabilidade, como a Coca-Cola e Walmart. “Sustentabilidade não é debate político, mas é como podemos ter um mundo melhor para nossos filhos. Sozinho ninguém faz, mais juntos podemos fazer a diferença”. Foi aplaudido calorosamente por todos.
O Amazonas
O Amazonas se consagra como o melhor lugar do mundo para se discutir o tema global da sustentabilidade, em 2012 teremos pela 3ª. vez o evento em nossa cidade. O mundo começa a entender que tudo está conectado e que nossas ações têm repercussão no coletivo. O Amazonas pelas suas características naturais se consolida como sede mundial da sustentabilidade.
Porém, após o Fórum voltamos para nossa realidade amazônica de enfrentar os desafios do nosso dia-a-dia de consolidar as políticas existentes e formular novas políticas que induzam empresários locais nas diferentes atividades produtivas como: pecuaristas, madeireiros, pescadores, extrativistas, mineradores, representantes da construção civil e outros a desempenharem suas atividades de forma sustentável com menores impactos aos recursos da natureza, aperfeiçoando suas práticas de produção com tecnologia e inovação.
Todos foram unânimes quanto à necessidade da manutenção das nossas florestas, mas pouco se falou sobre as pessoas que vivem embaixo da copa dessas árvores, é para essas pessoas que canalizamos nossa energia, e ainda, identificar parceiros que venham construir conosco novas oportunidades de melhoria das condições de vida e trabalho para as populações dispersas nesse tão rico território, mas que será rico na medida em que se distribua a sua riqueza para sua gente preparando o presente e o futuro sustentável de um Amazonas mais verde, mais próspero e mais justo.
Nádia Cristina d’ Avila Ferreira
Secretária de Estado do Meio Ambiente do Amazonas

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