Matéria Publicada pelo Jornal Amazonas em Tempo, caderno Platéia, do dia 16.10.2008A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DA MODAO evento Design em Foco 2008, realizado pela Faculdade Martha Falcão, inicia hoje, às 19h, com o projeto ‘Faces da Amazônia’, da consultora Nathaly Rabelo - que incorpora o conceito de desenvolvimento sustentável à moda. Depois de se fixar no mundo corporativo e na cena política nacional e internacional, o conceito de desenvolvimento sustentável invade o mundo da moda, como os manauaras poderão conferir no lançamento do projeto “Faces da Amazônia”, da designer e consultora de moda Nathaly Rabelo, que irá abrir a edição deste ano do Design em Foco, hoje, às 19h, no auditório da Faculdade Martha Falcão (Rua Natal, nº 300, Adrianópolis, Centro-Sul).
O evento é realizado há nove anos e conta com as participações de profissionais e alunos de Design de várias instituições de ensino locais. Embora tenha participado nas edições anteriores do Design em Foco, esta será, de fato, a estréia de Nathaly como profissional de Design. “Antes, eu atuei como membro do cerimonial. Agora, vou apresentar o meu primeiro trabalho”, esclarece Nathaly, que acaba de concluir a graduação em Design.
Ela explica que o “Faces da Amazônia” é fruto do projeto de conclusão do curso de Design da Faculdade Martha Falcão, que teve a orientação do professor Gean Lima, que a ajudou a desenvolver esse produto ao longo de dois anos. E o resultado foi a criação de sua terceira coleção de alta costura com peças inspiradas na biodiversidade amazônica. A criadora destaca que o projeto tem dois objetivos fundamentais: disseminar a sustentabilidade no mundo fashion e incentivar o desenvolvimento do mercado de moda local.
“Com a disseminação das práticas sustentáveis no dia-a-dia das pessoas, ajudaremos a preservar o planeta e a vida. Além disso, visto que estamos no meio da maior floresta tropical do mundo, que tem sido palco de inspiração para estilistas nacionais e internacionais, vamos incentivar o desenvolvimento de moda local, pois existem profissionais e estudantes com imenso potencial para mostrar a verdadeira ‘cara’ do Amazonas aqui e lá fora”, assegura Nathaly.
Moda conceitual
Nathaly frisa que o projeto foi estruturado para ser ecologicamente correto, culturalmente aceito e economicamente viável. “Ele tem todo um embasamento voltado para a comunicação desses três aspectos para que o público assimile a mensagem de práticas sustentáveis e a incorpore no seu dia-a-dia. Além das roupas, que fazem referência a isso, vamos utilizar músicas com letras voltadas para a questão ambiental e também vídeos. O público que comparecer ao evento será cadastrado e receberá via e-mail um catálogo de circulação internacional com mais de 100 dicas de práticas sustentáveis”, informa a designer.
Para os que não tiverem a oportunidade de conferir o evento, o catálogo já está disponível no blog da designer (www.nathalyrabelo.blogspot.com) e do próprio projeto (www.facesamazonia.blogspot.com). Ela ressalta que optou por não oferecer uma versão impressa do catálogo para agir em consonância com o que prega. “Se você imprime, além de gastar dinheiro com a impressão, você gasta tinta e papel”.
Pesquisa acadêmica e artística
Nesta atual coleção de moda, Nathaly privilegiou as cores da flora e fauna amazônicas, além de se inspirar na arte indígena, nos tecidos finos e caimentos ousados, com o intuito de mostrar ao público que a preservação da natureza influencia na preservação do próprio homem. “Esse projeto não é constituído apenas de um desfile de moda. Ele teve um forte embasamento teórico, com pesquisa bibliográfica, inclusive de livros científicos, visitas a zoológicos e bosques, além de estudo de outras coleções similares que utilizam esse conceito”, ressalta.
A arte indígena se insere nas obras da designer por meio da utilização de grafismos de várias etnias do Amazonas. “A arte desses povos é riquíssima. O fato de termos diversas etnias contribui para essa riqueza que não se limita aos grafismos, mas que está presente na música, na dança. Essa é uma das razões porque vamos utilizar também toadas de boi que têm batida que nos remete à música indígena e cujas letras são inspiradas em lendas indígenas”, comenta.
A idéia de aliar moda e Amazônia já vinha sendo desenvolvida pela designer desde a sua participação no concurso Ateliê Fashion, promovido pelo Amazonas Shopping Center, em abril deste ano, cujo requisito principal para a competição era a criação de cinco modelos em malha pet com o tema “Natureza”. Dessa forma, surgiu a série “Nature Haute-Couture” (“Alta Costura da Natureza”), que, entre outros destaques, apresentou o Vestido Orquídea, um dos mais aplaudidos no evento. Três meses depois, a designer apresentou outra coleção, a “Day by NR”, desta vez no Studio 5.
Entrada no mercado
Além de Nathaly Rabelo, a equipe do “Faces da Amazônia”, que alia moda à adoção de práticas sustentáveis no cotidiano da sociedade, é formada pelo professor Gean Lima, que atuou como orientador do projeto de conclusão de curso de Nathaly. Para ela, a participação de Gean foi fundamental porque, além de professor, ele é um destacado profissional de designer de produtos. “Ele me mostrou como fazer com que o projeto ficasse mais atraente para o público e para o mercado. Ele me apresentou muitas fontes de pesquisas e contribuiu para o aperfeiçoamento do produto”, afirma.
O produto final do “Faces da Amazônia” também reflete as orientações sobre hábitos dos consumidores, as quais foram obtidas por meio de uma pesquisa de mercado com os públicos A e B. “As mulheres, que são o alvo principal desse produto, disseram que se importam muito com a questão da ecologia e que tendem a comprar produtos ecologicamente corretos e que tenham a ver com a Amazônia”, revela Nathaly.
A designer também destaca que a união entre moda e natureza já é um comportamento culturalmente aceito. “Isso é uma coisa que já está sendo muito explorada. A receptividade é boa porque, a partir do momento que você une os dois conceitos, o público reconhece a importância disso e gosta, passando a consumir”, diz. Outro membro da equipe de Nathaly é o costureiro Oziel Costa, responsável pela confecção de todas as peças criadas pela designer. “Ele trabalha comigo desde que eu criei a minha primeira coleção”, lembra. Os contatos com Nathaly podem ser feitos por meio eletrônico (www.ic.carbonmade.com) ou telefônico (9613-8132).
Por Guilherme Gil, da Equipe do EM TEMPO.